terça-feira, 2 de junho de 2009

Marta Loguercio e a Litografia

Chica: Qual é o lugar da litografia hoje nas artes plásticas do Rio Grande do Sul?

Marta: Acho que seu lugar é lado a lado com todas as outras formas de expressão visual que praticamos aqui, ou em qualquer outra parte do mundo. Eu não considero a litografia como uma “categoria” no âmbito das artes e sim como um meio, que me permite praticar uma “linguagem específica”, do mesmo modo que são linguagens a pintura, o desenho, a fotografia, a instalação, a performance, a videoarte e por aí. A matéria calcária da pedra é um meio que me permite fazer o que eu não poderei fazer sobre nenhum outro material.
No entanto, e esta exposição conjunta de que estamos participando com artistas argentinos demonstra bem, é que no campo da arte não há lugar para ortodoxias, nem cânones (e eles tendem a aparecer em todas as épocas...).
A litografia também não existe em um âmbito fechado, que não possa sofrer modificações conceituais ao longo do tempo. Na mostra, poderão ser observados os “deslocamentos” em outras direções que se estão evidenciando na produção gráfica contemporânea e, neste caso, na litografia: uso de chapas de offset em lugar da pedra (o princípio de execução permanece o mesmo, mas a matéria calcária não é utilizada); uso de suportes variados, além do papel; mescla com outros meios; e até mesmo tridimensionalidade, em alguns casos.

Chica: Como surgiu essa ligação dos artistas de Porto Alegre e Buenos Aires?

Marta: Basicamente, nossa ligação é realmente cultural: os países do Sul do continente têm heranças semelhantes às nossas, não há dúvida. Eu pessoalmente “me reconheço” muito mais nestes países do que em outras regiões do Brasil. Mas, o encontro real aconteceu há cerca de dez anos: participando de uma mostra em Buenos Aires, conheci o artista Rafael Gil. No ano seguinte, por indicação de Miriam Tolpolar, da oficina de litografia do Atelier Livre da Prefeitura, ele deu um curso no Festival de Inverno daquela instituição. Em 2000, realizamos mostra conjunta em um formato semelhante ao atual (Litografias Porteñas e Gaúchas), em Porto Alegre, no MARGS Ado Malagoli e em Buenos Aires, no Centro Cultural Borges. No ano passado, eu e Rafael nos cruzamos em uma mostra realizada em Huelva/Espanha (El Arte Litográfico del Cono Sur) e ele me propôs retomarmos aquela experiência de mostra conjunta, neste ano de 2009.
A meu ver esta exposição, de certa forma, vem amenizar em nossa cidade a carência de divulgação da produção atual de trabalhos de artistas dos países próximos. A não ser pela Bienal do Mercosul, aqui quase não ocorrem mais exposições conjuntas (como em outras épocas), que tragam a público a produção realizada na América Latina.


Chica: Como é a receptividade dos artistas gaúchos na Argentina e qual a expectativa pra edição de Buenos Aires?

Marta: Há uma boa receptividade como a que damos a eles aqui, porque nossas semelhanças culturais são evidentes. No entanto, também existem as diferenças e é bom que assim seja. Assimilando-o ou não, conhecer o “diferente” se torna uma fonte de enriquecimento para todos. A mostra em Buenos Aires, provavelmente, se realizará no segundo semestre deste ano, em local ainda a ser anunciado.

Chica: Valeu Marta, parabéns pela exposição e boa sorte em Buenos Aires!

Um comentário:

  1. Marta, como sempre tuas entrevistas são muito enriquecedoras: concordo contigo quanto à identidade com nossos "hermanos": temos com eles mais coisas em comum do que com os brasileiros do norte do país. Parabéns e muito sucesso SEMPRE!

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