sexta-feira, 26 de junho de 2009

Nei Lisboa e as Músicas Para Baixar

Chica – Nei, tu tá participando desse projeto, dessa proposta do Música Para Baixar. E tu tem uma carreira consolidada, um trabalho consagrado: qual a importância de estar participando do evento e como isso tudo influencia no seu trabalho?

Nei – Pra mim é importante como pra todo mundo estar atento a esse debate. Pra aprender, pra trocar, pra pensar juntos porque é uma coisa que ninguém sabe ainda pra onde vai, a gente tá vivendo um momento de muita mexida na distribuição de música e num todo que isso tá inserido. Uma passagem muito forte. A linguagem analógica pra digital, quase uma troca de universo, essa coisa da linguagem, da cultura, da comunicação das pessoas. Isso é uma coisa que já vem vindo, eu já tô interessado, posso não ser um militante da área, fico mais na minha assim, mas já venho mergulhando nisso faz um tempo. Mexendo bastante com meu site na internet, colocando coisas pra download, inventei um player que as pessoas baixam e escutam todos os meus CDs...

Chica – Liberou toda a obra?

Nei – Eu liberei na medida que legalmente isso era possível pra mim, tem essa forma: um playerzinho que, tanto conectado a internet, você ouve tudo. E isso é perfeitamente legal, pra isso eu tenho que pagar um Ecad até...

Chica – É mesmo?! O Ecad, nesse sentido, cobra do artista?

Nei – É, do artista. Na verdade é uma taxa pra qualquer site pessoal, não é nem institucional e muito menos comercial, pra tu ter música, qualquer música, na verdade eu tô liberado também pra rodar música de outros. Como o player é uma extensão do site, não tem uma classificação definida, toda essa legislação é muito nova, eu fico enquadrado dentro dessa taxa que, pra uma brincadeira que eu queria fazer é perfeitamente razoável, R$ 40,00 ao mês e ainda alardeio aos quatro ventos. Tô pagando Ecad, estou totalmente legalizado e achando brechas pro meu trabalho...

Chica – E tu sente o retorno disso?

Nei – Claro. Essa brincadeira já vem de um ano, lancei a primeira versão, agora a poucos meses lancei a segunda. Já tem mais de mils e mils downloads. Entre a primeira e a segunda tem uns 3 mil que baixaram. Tu monitora, acessa e tal. E agora essa segunda versão tem vídeo, uma central ao vivo também...

Chica – Mas tu já tá bem adiantadinho? Hahahah

Nei – Heheh, é muito maluco né. Dá pra fazer uma coisa bacana... Então, na verdade, buscando formas de distribuição, porque a indústria nessa derrocada que se meteu, um pouco o CD ainda sobrevive, um pouco tentando tardiamente achar um espaço, tomar conta do espaço virtual também com a venda via internet e tal. A indústria nessa locurama toda aí deixou de investir, o mínimo de intenção que houve na vida de investir em projetos mais culturais, de resgatar e tal, foi pro brejo. CDs antigos meus não são relançados. Tem gravadoras que faliram, a Paradox faliu e tem dois CDs meus que ela vai continuar dona, eu não posso fabricar e não vai jamais ser fabricado. Então a rede pra isso é uma alternativa sensacional, porque repõe catálogo imediatamente pro mundo inteiro...

Chica – Poisé, tu viveu essa fase das gravadoras e agora tá vivendo o começo desse outro universo. Pro músico, pro compositor, qual é a melhor?

Nei – Acho que os artistas, enquanto classe, a hora é agora de se antenar, marcar algum espaço, pra que as coisas no final da linha não reproduzam exatamente o que era antes. Era uma hegemonia, um poderio desmedido, truculento, de três, quatro multinacionais sobre o mercado e a distribuição e produção de música. Esse é o panorama dos tempos antigos e é inocência achar que isso não vá retornar, se remodelar e ter o mesmo gênero de poder dentro da rede. Acho que o que a gente pode é arrefecer um pouco essa violência, marcar espaços de liberdade para os quais a rede é muito propícia, a rede se move muito mais rápido que esse elefante da megalomania capital. Ela é propícia pra pequenas revoluções, pra gente manter uma liberdade, uma multiplicidade criativa. Porque toda essa questão de domínio de poucas e gigantes gravadoras não é só a violência econômica mas também estética, criativa, porque termina numa mesmice, uma mediocridade de um modo geral. Nivela por baixo a produção cultural. Então é preciso que a gente brigue em todos os sentidos: essa questão do direito autoral é super discutido, é delicado. Eu sou uma pessoa muito liberal nessa parte, mas sei que isso que funciona pra mim pode não funcionar pra outros. Há quem viva exclusivamente da atividade de compositor e não tem o lado do show que pra mim é o lado de remuneração.

Chica – E sobre esse I fórum MPB estar acontecendo aqui em Porto Algre, não é a primeira vez que nossa cidade recebe a primeira edição de um evento assim...

Nei – Dá saudades né, do Fórum Social... É sim, é muito importante, tem toda essa questão da legislação que é feita às pressas e alguma coisa fica debaixo do pano e defender interesses que a gente não sabe muito bem... Tem algumas coisas de mais urgência, e esse debate é sempre importante.

Chica – Mas é isso, então vamos fazer música. Não dá pra parar também né Nei...

Nei – Ah não, vamo lá! Eu tenho que cantar ainda aí.

Chica – Certo, valeu Nei, mais sucesso ainda pra você!

Nei – Obrigado, valeu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário