quarta-feira, 17 de junho de 2009

Marcelo Cougo e o MPB



Chica – Cara, tá, internet, beleza, é bom pra divulgar. Agora todo mundo tá fazendo música e botando na internet. Tem espaço pra todo mundo?

Marcelo – Tem. Tem porque nunca teve tanta gente no mundo como hoje em dia. São mais de 6 bilhões de habitantes nesse planeta, tem espaço pra caramba. Tem público pra todo seguimento e o seguinte, a música é uma forma de arte maior e a gente não pode esquecer pra quê que serve a arte também. Serve pra tornar a vida das pessoas mais suportável, pra gente poder dar um passo além dessa nossa condição humana tão limitada, a arte serve pra isso. Não vamos limitar, as pessoas podem fazer arte à vontade. Agora, a gente sabe quem é que faz bem a arte, quem é que realmente as pessoas querem buscar, aquela obra daquele cara, daquele artista e tal. Isso nunca vai ser substituído. O acesso, a facilidade pra fazer as coisas, pra tu trabalhar com artes gráficas, por exemplo. Tu fazer um projeto arquitetônico hoje em dia. Tu imagina os desenhos de Gaudí, agora tu imagina os caras mexendo no computador pra fazer uma planta hoje desse prédio que a gente tá aqui. São formas diferentes. Agora o cara tem que ser bom, tem que ser fera.

Chica – E tu acha que a cultura em geral só vai ter futuro se estiver digitalizada?

Marcelo – Não, não acho. A cultura é presente. Acho que ela tem o presente não digitalizado. Pro futuro precisamos digitalizar muitas coisas pra não se perder. A pergunta faz pensar. Mas tipo assim, se tivesse um instrumento, se só nós soubéssemos fazer esse instrumento, que fosse importante na nossa região, que tivesse uma história na nossa região. Antigamente escreveríamos um manual, ensinaríamos as outras pessoas a fazer, pra passar aquele legado que é importante. A internet, a digitalização facilita muito e garante, pelo menos por um pouco mais de tempo, que isso continue. Não que isso torne estanque o processo cultural que é dinâmico.

Chica – A gente tava falando agora pouco das novas maneiras de disseminar músicas, novos formatos, tudo o que a internet oferece e que é positivo. O que você acha que os novos músicos devem fazer a partir de agora pra estarem inseridos nesse novo contexto?

Marcelo – Essa é uma pergunta complicada porque eu não sei nem o que eu devo fazer pra táinserido nesse contexto hahahah... Acho que todo mundo tinha que dar uma boa tastaviada, tem que experimentar tem que ter ciência de algumas coisas. A pessoa tem que saber que precisa divulgar a banda dela. Perfilzinho no orkut, ter uma boa lista de e-mail, myspace, procurar esses clubes de trocas, onde o pessoal conhece o trabalho de um de outro. Acho que é um caminho fácil e muito acessível de se fazer, custa barato e tem o seu valor sim. Se a pessoa trabalhar bastante tem um potencial enorme. Tem que se dedicar, aquilo ali é como se fosse um trabalho de escritoriozinho, tem que fazer 2 horas por dia, durante 6 meses... faz efeito.

Chica – Bom, tu tomou uma iniciativa e participou da organização do I Fórum MPB. E como que foi... Quem tá colaborando, como é que foi a aceitação? Tem muita gente querendo ajudar?

Marcelo – Tem muita gente querendo ajudar. Isso aí foi uma idéia que começou lá na Campus Party um evento que rola lá em São Paulo no começo do ano, com um pessoal que mexe com internet e tal. E o pessoal começou a discutir, o Everton e o Serraria, junto com vários outros ativistas, o Fernando Anitelli do Teatro Mágico e essa galera começou a discutir a criminalização do download gratuito, o acesso, o compartilhamento de arquivos, de informação e todo o contrafluxo, a contrareforma, que vem pesada. Ela vem pesada, vem misturando, vem causando confusão na cabeça das pessoas. Vem misturando compartilhar arquivo com pirataria. Típico da grande mídia, perpetuar essa confusão de modo que as pessoas não consigam enxergar o que é uma coisa e o que é outra. Bota tudo num grande saco e acha que tudo é a mesma coisa. Esse pessoal começou uma discussão via internet, via msn, começaram a se unir e resolveram aproveitar a edição do FISL em Porto Alegre e iniciar esse projeto. Quer dizer: apoio da Associação do Software Livre, apoio da Prefeitura através da Secretaria Municipal de Cultura, que conseguiu esses espaços pra gente fazer os shows, montaram uma estrutura pra rapazeada, o Sindicato dos Bancários cedendo o espaço, o Ministério da Cultura, um apoio muito importante, com algumas passagens e hospedagens pras pessoas virem até aqui, participar dos debates e dos eventos, dos shows. Vários agentes se mobilizaram, pessoas, ativistas, se mobilizaram pra que isso pudesse estar acontecendo hoje.

Chica – E a organização física da história, foi uma loucura ou não?

Marcelo – É uma doidera hahahah. Olha o modelo: as pessoas são acostumadas a viver numa segmentação porque o sistema nos prepara pra viver um mercado de trabalho e ter uma função, ser uma peça na máquina. Então tu faz isso, é segmentado o negócio. E aqui é descentralizado e autogestionário, então a coisa é meio caótica. E tem que aprender a fazer melhor e melhor e melhor. Ano que vem vai tá mais legal.

Chica – Então a ideia é continuar aqui em Porto Alegre?

Marcelo – Eu acho que a ideia é continuar aqui em Porto Alegre, um evento junto com o FISL, não sei se tão ligado assim ou paralelo, mas aproveitar esse momento porque é um evento do caramba, que acontece há 10 anos, num nível internacional, vem muita gente importante pra caramba aí. Tem que ver, como a gente vai articular, tem até o ano que vem pra gente pensar. O fMPB como é descentralizado e autogestionário ele pode ser em qualquer momento, em qualquer lugar. Aliás, deve tá acontecendo coisas por aí, e isso é Música Para Baixar.

Chica – E aí tu vai subir lá pra tocar ou vai ficar só papeando?

Marcelo – É, eu espero tocar um pouquinho hoje ainda. O cara faaala...

Chica – hahahha

Marcelo – Tu me pegou de surpresa aqui, mas é isso mesmo, acho que valeu.

Chica – Certo, valeu e muito.

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