terça-feira, 2 de junho de 2009

Tânia Cardoso de Cardoso e a Sala Redenção

Chica: Qual é a proposta da Mostra Contos de Nova York?

Tânia: O ciclo contempla filmes de várias épocas. A ideia é trazer a obra de diretores e mostrar a trajetória de cada um deles. O que produziram, o que produzem, fases, mudanças e obsessões de cada um. Se formos pensar sobre a filmografia de cada um dos cineastas, podemos apontar mudanças de rumo, mas ao mesmo tempo há temas que continuam bastante presentes em seus filmes. Woody Allen, por exemplo. Penso que há várias fases em sua produção, depois um certo rompimento e uma espécie de reconciliação, de diálogo entre uma fase (que é contemplada no ciclo) com uma mudança dos últimos tempos. O mesmo foi pensado em relação aos outros cineastas, mas sem classificar demais ou fazer quadros muitos esquemáticos. Sofia Coppola tem uma produção um pouco mais recente. E acredito que com esta proposta a história cinematográfica é recuperada também. Eu chamaria a atenção para o fato de que filmes clássicos e contemporâneos estão sendo oferecidos, intercalados não apenas como uma forma de resgatar a memória cinematográfica, mas também pensando na ampliação de tal memória.

Chica: Qual é o propósito da Difusão de Cultural em relação ao cinema?

Tânia: A proposta do Departamento de Difusão Cultural para a Sala Redenção – Cinema Universitário a partir, principalmente, de 2009 é de devolvê-la à cidade de Porto Alegre, oferecendo uma programação diária (de segunda a sábado), com ciclos alternativos. A Sala Redenção vem passando por um processo de revitalização com o objetivo de reforçar o caráter de cinema alternativo. Trazer filmes clássicos, ciclos de diretores e temas específicos. Sabe aquela coisa de cinema de bairro que se perdeu com o tempo? Aquela coisa de Cinemateca? Pois é, a proposta é buscar afirmar este caráter para nossa Sala. Tal projeto para a Sala Redenção – sempre em sintonia com o projeto do Departamento de Difusão Cultural, dirigido por Claudia Boettcher, do qual a Sala faz parte – pretende dirigir o foco das discussões para a cultura como vetor de criatividade e diversidade, com o objetivo de enfatizar o diálogo com a cidade. Pretende, também, fortalecer a Sala de cinema como um espaço público de reflexão e diálogo sobre temas relevantes da agenda contemporânea, como intuito de aguçar o poder de reflexão e de criação do público. Poder oferecer uma programação elaborada, pensada com cuidado, totalmente gratuita, é algo que nos traz muito orgulho. E o importante também é encontrar empresas que apostem verdadeiramente no cinema e que apoiam a Sala Redenção de uma forma importante. É o Caso do Centro de Entretenimento E o vídeo Levou, que nos disponibiliza os filmes para que possamos exibi-los gratuitamente. Isso é muito importante. Alternativa simples e fundamental. Mas é preciso acreditar e apostar no cinema. Foi o que encontramos com este apoio. Parcerias e apoios e como esses são possíveis por se tratar de um projeto acadêmico sem fins lucrativos.


Chica: Como é a aceitação do público porto-alegrense em mostras como esta?

Tânia: Desde o início do ano a Sala Redenção tem apostado em ciclos com uma programação bastante elaborada. A aceitação do público tem sido excelente. Há muita coisa para se fazer, ciclos a programar. O maior desafio e beleza desse projeto é pensar que há um público ávido por programações desse tipo. Universitários freqüentam assiduamente a Sala e parecem ávidos por uma programação elaborada da forma que estamos programando. Temos um público cativo de pessoas da terceira idade que freqüentam a Sala. Isso para nós é muito importante. Poder oferecer essa atividade não apenas de reflexão, mas também como uma alternativa de programação para as pessoas que, além de serem admiradoras da sétima arte, buscam na programação da Sala uma forma de ocupação criativa, digamos assim, é algo importante. É uma forma de continuar produzindo. Há uma memória sendo trabalhada ali de diversas formas. Sem contar que a maior prova de que as salas de cinema continuam sendo espaços importantes é a presença do público na Sala. Todos estes filmes estão disponíveis nas locadoras, mas as pessoas querem assisti-los na tela do cinema. A sala de cinema continua seduzindo muito o público.

Chica: Qual seu filme preferido da mostra e por quê?
Tânia: Esta é uma pergunta difícil, complicada. Há vários filmes deste ciclo que gosto muito e eles estão ali por algum motivo específico. Gosto muito de muitos deles. Vidas sem rumo, de Francis Ford Coppola, por exemplo, penso que até hoje existe nele uma força juvenil e poética muito grande. E faz isso com muita delicadeza. Sem contar que é um filme que dialoga o tempo todo com outras referências. Por vezes os filmes podem ser talvez datados e acho que este não é o caso. Recuperar este, entre outros filmes, para mim é importante. O próprio Contos de Nova York, que faz uma espécie de ligação entre os diretores e filmes do ciclo, é uma produção que gosto muito. Sem contar que tem uma trilha sonora maravilhosa também. Da Sofia Coppola, embora eu goste muito de Encontros e desencontros e Maria Antonieta, destaco o filme Virgens suicidas, que penso ser um filme denso, delicado e sem excessos. Poderia falar de alguns clássicos presentes como, por exemplo, Taxi driver, Touro indomável, de Martin Scorsese ou O Poderoso chefão I II e III, Appocalypse now também de Francis Ford Coppola. Há vários do Woody Allen, como citei anteriormente, de um período longo de produção do diretor que fica até difícil de destacar apenas alguns. Enfim, se começar a destacar, falarei de todos os filmes do ciclo. Deixo para que o público faça sua lista de filmes. O que queremos é que o público se sinta mexido, atravessado e sacudido por cada um dos filmes de formas diferentes. E que freqüentem cada vez mais a Sala Redenção – Cinema Universitário na certeza de que encontrarão uma programação elaborada com cuidado a cada mês. Em julho teremos um ciclo sobre o movimento Nouvelle Vague e, em agosto, uma Mosta de cinema argentino. Muitas coisas boas estão programadas para este ano. O mais importante para nós é a aprovação do público. O número de espectadores nos ciclos será uma forma de vermos se estamos trilhando o caminho certo e quais são as expectativas e os novos desafios para nosso projeto. É preciso estar atento para muitas coisas o tempo todo. Mas é um grande prazer poder oferecer gratuitamente mostras de cinema para um público que parece estar aprovando nossas escolhas. Isso é muito importante.

Chica: Com certeza. Obrigada Tânia, nos vemos na Sala!

Nenhum comentário:

Postar um comentário