sexta-feira, 26 de junho de 2009

Fernando Anitelli do Teatro Mágico e a música livre

Chica – Aí Fernando, um dos maiores apoiadores de toda essa história, fazendo sua parte aqui no MPB. Qual a importância desse fórum, dessas discussões pra música agora?

Fernando – Assim, é um fórum que já demorou pra acontecer na verdade. Porque há mais de 20 anos qualquer artista brasileiro ficava dependendo do bom humor de alguém de uma rádio, de uma televisão, tentar encaixar você numa programação. O artista sempre teve que comprar o espaço na mídia.
E aí a gente dependia dos caras e passou a ter essa prática do jabá...

Fã – Posso tirar uma foto contigo? (por um instante pensei que a Chica já estava famosa, mas não, não era comigo).

...Depois de um breve momento dedicado aos fãs...

Chica – Tem uma galera começando agora. Sobre esse novo formato, as novas tecnologias pra disseminar música, enfim. Quais são as principais vantagens pro artista, pro autor?

Fernando – As principais vantagens, todo mundo tem essa dúvida. O quê que o autor vai ganhar se ele não tá na estrada, se ele só compõe. Eu acho assim, antes de mais nada ele passa a existir, hoje. Antes de ter a internet ele nem existia. Ele podia compor o que fosse, ninguém jamais ia ouvir, da pessoa dele, do trabalho dele. Ele ia compor um monte de música e ia ficar engavetado. A possibilidade que a gente tem com uma ferramenta como essa, pra espalhar o material, é a pessoa ter o seu nome divulgado. Não é que a pessoa deixa de ganhar, têm propostas pra administrar isso daí. Existe o download remunerado, uma coisa que tem acontecido com a Trama e tem dado muito certo. Ali o autor também tá ganhando tranqüilamente. Existe a negociação dele com os grupos que vão interpretar as músicas dele. A gente faz isso por exemplo: eu componho a grande maioria das músicas do Teatro Mágico, mas tem 4 ou 5 músicas ali, umas do Danilo, um amigo meu, outras que fiz em parceria. Então o que a gente faz, a gente define um valor, divide num montante no fim do ano. Tem maneiras alternativas. Porque até então você era um cara que nem existia. Não tinha aonde divulgar, você tinha não onde gravar. Eu fui contratado pela Cascatas Records, ainda se fosse Cachoeiras! Mas não, era Cascatas mesmo. A gente tava gravando a oitava, nona música lá no estúdio, chegou o dono da gravadora e falou: “ó, muda tudo que agora o negócio vai ser forró universitário e ska... refaz a versão e tal”.

Chica – É mesmo?! O cara queria mudar o trabalho de vocês?

Fernando – É... “não vamos mudar”. Beleza, gaveta. Engavetou a gente. A gente não podia divulgar nem na internet, não podia gravar nada, só podia fazer show. Aí a gente teve que forjar um fim, pra gente poder fazer essa rescisão e tal. Então, eu acredito assim: é lógico que é um momento é diferente. Tinha um momento no planeta que tinha um cara que ganhava pra abrir um negocinho assim (apontando pro alto) e botar fogo na vela. Fechava, ia no outro lado da rua... Acabou. Outro cara inventou a luz elétrica. Acabou. Um exemplo: o cara que inventou o youtube, acabou com a MTV. O cara que inventou o youtube faz com que ninguém mais fique na frente da TV esperando aquele clipe, aquela música. Então a MTV teve que fazer o quê? Vamos fazer programa de auditório, chama a Daniella, isso, pega uma gostosa. Pega a Cicarelli botando homem e mulher pra beijar. Apela, apela. Então, assim, é lógico que a tecnologia vai trazer certos impasses. “Pô, mas e fulano? E o cara que escreve livro?”. Tem autores hoje que fazem o livro online, esse cara vai ganhar o quê, daonde? Porra! Cria-se. Às vezes a solução a gente não tem aqui agora a resposta, mas vamos caminhar pra isso, vamos tentar alguma coisa pra isso. A ideia é meio que dentro desse plano assim, sabe? Então acredito assim, pra todo mundo que tá começando, tem que ter um site, tem que ter a sua rede de amigos, de e-mails...

Chica – Isso que eu ia te perguntar, tem que ter?

Fernando – É irreversível. Ó, isso que a menina acabou de fazer: ela veio aqui me viu aqui do nada, tirou uma foto. Essa foto daqui a pouco tá no planeta. Caiu num cyberespaço, tá no mundo inteiro. Então assim, não tem como...

Chica – A dica pra galera então é se ligar mesmo?

Fernando – A dica é se ligar, buscar articular não somente virtualmente as suas redes de contato, também fisicamente: criando um festival, se encontrando com os artistas locais, falar com a prefeitura, com a escola, com faculdade, centros culturais. São espaços que dão oportunidade pra você mostrar o trabalho independente e tal, trabalhos autorais, quem tá cuidando desse teatro, enfim, é ir atrás disso aí fisicamente mesmo e no virtual, tudo que for possível. Site, site de relacionamento, música livre pra galera baixar. Até então se pagava R$ 40,00, R$50,00 num CD pra ouvir uma, duas músicas. E hoje não precisa mais. Aí o Elton John vem e diz que precisa parar com essa coisa de internet por uns 2 ou 3 anos porque isso tá acabando com os compositores, porque ele vendeu só 100 mil cópias do último trabalho dele. Porra, não é que tá acabando os compositores, tá surgindo um monte. Tá todo mundo vendo que não tem só o Elton John tocando piano, tem aquele moleque, tem aquele moleque, tem aquele moleque.

Chica – E porque você acha que as gravadoras não acabaram ainda?

Fernando – As gravadoras não acabaram ainda por uma simples questão (sinalzinho clássico de din din): elas têm uma economia fodida, gigante ainda. Mas quem não se ligou, já fechou. Quem se ligou, como a Trama, tá dando um jeito, procurando outras respostas e tal. As gravadoras brigam contra a pirataria. Há 15 anos atrás não era a gente que tava tocando uma fita K7 escrito “lentas”? Porra! Todo mundo fez isso. Se você faz isso hoje você é criminoso. Então espera aí, eu sempre fui criminoso e não sabia. A xerox do livro que a gente fazia na faculdade. O autor tá perdendo dinheiro com isso? O autor deixou de ser lido muitas vezes porque “pô, não vou comprar isso aí, vou pegar uma cópia de alguém”... Não tem como segurar...

Chica – Resumindo, o direito autoral vai ser sempre a questão mais delicada de toda essa discussão?

Fernando – O direito autoral vai ser a questão mais delicada justamente por isso: como esse autor pode receber? Várias ideias ficam passando, por exemplo: o Ecad arrecadou ano passado R$ 380 mi. Porra, imagina só: se você pegar todos os brasileiros que usam celular, se cada um na hora da compra pagasse R$ 2,00, daria muito mais que isso. Com essa grana, ele poderia baixar pelo celular o som que ele quer e aí sim, seria uma coisa muito mais transparente inclusive pra nós. Porque outro dia eu fui multado pelo Ecad porque eu toquei minhas músicas. Você tem que informar o Ecad 15 dias antes aonde você vai se apresentar e que música você vai tocar. Porque é uma lei que existe no Ecad desde quando ele foi criado, na época da ditadura. Todo mundo queria saber aonde você tava tocando e que música você tava tocando. Só que a lei não mudou e eu sou obrigado hoje a avisar com um mês, 15 dias de antecedência, onde e que música o Teatro Mágico vai tocar. Então assim, saber que existe uma lei que tá regendo essa relação hoje e ninguém faz nada... Então acho que a grande questão quando se fala em propriedade, em como o autor vai ganhar o direito autoral dele, é dentro desse espírito assim, de ir descobrindo, sabe? É um momento novo, uma tecnologia nova, vamos descobrindo. A gente não sabe, vamos arranjar soluções pra isso.

Amiga (dele, no caso) – Fernando, convida ela pra tomar uma? A gente vai pra Cidade Baixa.

Chica – Pois é, ia perguntar isso também. Tá cansado e vai pro hotel ou vai tomar cachaça?

Fernando – Vô tomá cachaça.

Chica – hahaha, vambora!

3 comentários:

  1. Olha, perguntei no Blog do TM se tinham algum link, hoje dei uma passadinha lá e vi seu blog, acabei de ler, poxa.. Perdi o negocio ao vivo, mas descobri seu blog .. Cacildiz...(heheh) muito bom texto e aconteçimento .. Tá de Parabéns. Você, por suas perguntas e tais outras coisas e claaro O fernando né. Até +...

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  2. Excelente :)
    É bom saber a opinião dessa galera que tá na estrada de forma independente. Eu sou o caso clássico do compositor "de quarto", me identifiquei bastante.

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